quinta-feira, 14 de março de 2013

Uma questão de escolha



Há mais de uma década, venho dizendo que a educação compilou grandes problemas para si, mas o mais preocupante é, indubitavelmente, a indisciplina.
Não é difícil encontrar quem nasceu em lugares afastados dos grandes centros urbanos e que, para estudar tinha de andar quilômetros até chegar a um ponto de ônibus para  chegar à escola. Não bastando os sacrifícios de ir e vir, ao retornar da escola, tinha de trabalhar seja no pequeno negócio que sustentava a família seja vendendo fruta numa esquina qualquer ou ainda engraxando sapatos para ajudar no sustento da casa.
É fácil encontrar quem teve uma infância miserável em que a mãe agarrando os filhos fugia do pai que lhes seguia com um facão para pôr-lhes fim a vida. Gente que, tentando se esconder do insistente chamado da morte, passou noites de cortante inverno em tapera cheia de abandono na beira do rio, sem o que comer, sem onde se deitar, sem um agasalho, sem como ser gente, só com uma fogueira tímida que o vento devorava e, ainda assim, continuou na luta pela aquisição do conhecimento e, hoje, dispõe de tão vasto saber que causa inveja a muitos que tiveram berço nobre.
Igualmente comum é encontrar mulheres que, para estudar, tiveram no seu encalço, tarde da noite na volta para casa, pessoas que tentaram violar sua integridade física e roubar-lhe a chance de escrever um rumo diferente à própria vida. Ou ainda, homens que, fugindo do triste destino que lhes acenava uma vida presa no fundo de uma garrafa de pinga, desvencilharam-se dessas teias, partiram para longe de sua parentela e, com estudo, construíram nova vida, digna, límpida de vícios e transbordante de saberes.
Hoje, quando olho para um professor, que ingressou no magistério por acreditar que o conhecimento é o que enobrece o espírito do ser humano, percebo que, embora ele continue acreditando nisso, uma coisa mudou: não há mais disciplina suficiente para gerar mudanças.
Afirmar que o mau desempenho do aluno é responsabilidade do professor, que o poder público não oferece estrutura adequada para a boa qualidade do ensino, que muitos pais não estão ocupados em educar seus filhos é verdadeiro. Mas, de todos esses males, o que ninguém pode vencer, a não ser cada indivíduo, é o comportamento que cada um escolhe ter. Do mesmo modo que o tratamento médico só tem resultado se o paciente seguir à risca o que o médico receitou, o professor só consegue ministrar o conteúdo e tornar o ser humano sociável promovendo a inclusão social se o aluno quiser. Não é a lei ou a imposição dos pais. É o querer de cada aluno.
Não é a riqueza que propicia a educação. Estar numa escola privada, ter acesso a meios de transporte para chegar à escola e a várias mídias não é suficiente para formar um cidadão se lhe faltar disciplina. Para ter disciplina a fim de fazer determinada coisa é preciso, no mínimo, entender a necessidade de se dar a essa tarefa e, então, querer percorrer todo o caminho até chegar ao ápice dos objetivos traçados. É uma questão de escolha.
Fome, miséria, pais que até se separarem vivem à beira da tragédia, alcoolismo, prostituição, tudo isso interfere negativamente no desenvolvimento intelectual e emocional de um ser humano. Mas nenhuma dessas desgraças é tão avassaladora quanto a falta de disciplina, que é uma escolha interna cujo resultado se vê nas atitudes de cada um.
Conhecimento requer disciplina. Essa é a mais difícil das lições. É, no entanto, a mais importante, porque guiará o crescimento do ser humano por toda sua existência. Será sua luz em qualquer caminho que resolva trilhar. Será sua chance de escapar do mal que assola a maior parte da sociedade: a mediocridade.