Quem pode prescindir de serviços públicos
como água, luz e telefone? E que usuário nunca ficou pelo menos meia hora ao
telefone tentando resolver um erro de uma concessionária de serviços púbicos tentando
cancelar um daqueles “extras” (“siga-me”, “secretária eletrônica”, etc.) dos
serviços prestados?
Se você tem uma conta excessiva de
água tem de, além de descobrir a causa e consertar o estrago, encontrar um
jeito milagroso de fazer com que alguém faça uma nova leitura que reconduza sua
conta ao valor normal. Se fala com os atendentes, dizem que você tem que
protocolar um pedido; se você protocola mil vezes pedidos com diferentes
argumentos para o que você necessita, eles respondem copiando e colando o mesmo
texto mil vezes. Não se dão o trabalho de ler o que está sendo requerido, mas
durante a troca de mensagens, a conta tem de ser paga sob pena de interrupção
do serviço.
Concessionárias de energia elétrica
não ficam para trás. Se você perceber constante oscilação de energia e pedir
uma vistoria, indubitavelmente, os passos seguintes serão: um ou dois
funcionários farão uma visita a sua casa; olharão aqui e ali; dirão que podem
instalar um “aparelhinho” no poste por onde chega a energia na residência e irão
embora. Poucos dias depois, você receberá uma cartinha com a conta para pagar.
Seu problema não é resolvido e ainda assim tem de pagar uma taxa extra por ter
solicitado manutenção da concessionária que já cobra altos valores pelo
fornecimento de energia.
Se você tem seus eletrodomésticos queimados
por raio ou por religação de energia, terá de percorrer a via crucis por anos a fio, brigando na justiça por ressarcimento,
porque, lógico, a concessionária de energia nunca assume a responsabilidade
pelos problemas que gera e pela má prestação do serviço.
Mas quem ganha o primeiro lugar no
ranking de pior qualidade no fornecimento de serviços é a telefonia. É mais
fácil matar, Cérbero, o cão do inferno, do que conseguir qualquer coisa com
empresas de telefonia. Pedir portabilidade ou cancelar um dos serviços ocupa
uma hora tranquilamente. Desligam o telefone antes de resolverem o problema;
dizem ‘Só um minuto’, senhor!” e nunca mais voltam. Pedem mil confirmações de
que você é você para, no fim, dizer que não é naquele setor que se resolve
aquele assunto. Transferem você para outro ramal em que a história será
repetida para, não poucas vezes, você ouvir que terá de ligar para outro
número.
É piada aquele um minuto estipulado
pelo governo federal referente ao tempo máximo que o consumidor pode esperar
para ser atendido ao telefone. Mesmo que alguém atendesse a ligação com, no
máximo, um minuto, o atendente enrola tanto que, ao final de uma hora, nada estaria
resolvido e o assinante estaria à beira de um infarto por tamanho desrespeito.
É trágico alguém só conseguir se
desvencilhar de uma linha telefônica se disser que quer cancelá-la porque está
indo embora do país. Isso mostra o baixo nível de respeito à dignidade humana
de que essas empresas estão revestidas.
A verdade é que somos reféns dessas
concessionárias, do governo e do
desserviço de ambos. É inevitável pensar que ao delegar esses serviços, o
governo deixa a impressão de que não consegue oferecê-los adequadamente e,
delegando-os, não é capaz nem de fiscalizá-los.
Em termos de serviços, vivemos uma
política do café-com-leite com governo e empresas privadas se revezando em
ofertar o pior serviço. O governo é mau empresário e péssimo eleitor de seus
concessionários, cujo objetivo final é só o lucro.
Ser governo ou empresário assim é
fácil. Difícil é ser cidadão comum que, no final das contas, é quem sempre paga
caro e raramente leva.
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