quinta-feira, 2 de maio de 2013

Pátria hostil


Quem pode prescindir de serviços públicos como água, luz e telefone? E que usuário nunca ficou pelo menos meia hora ao telefone tentando resolver um erro de uma concessionária de serviços púbicos tentando cancelar um daqueles “extras” (“siga-me”, “secretária eletrônica”, etc.) dos serviços prestados?

Se você tem uma conta excessiva de água tem de, além de descobrir a causa e consertar o estrago, encontrar um jeito milagroso de fazer com que alguém faça uma nova leitura que reconduza sua conta ao valor normal. Se fala com os atendentes, dizem que você tem que protocolar um pedido; se você protocola mil vezes pedidos com diferentes argumentos para o que você necessita, eles respondem copiando e colando o mesmo texto mil vezes. Não se dão o trabalho de ler o que está sendo requerido, mas durante a troca de mensagens, a conta tem de ser paga sob pena de interrupção do serviço.

Concessionárias de energia elétrica não ficam para trás. Se você perceber constante oscilação de energia e pedir uma vistoria, indubitavelmente, os passos seguintes serão: um ou dois funcionários farão uma visita a sua casa; olharão aqui e ali; dirão que podem instalar um “aparelhinho” no poste por onde chega a energia na residência e irão embora. Poucos dias depois, você receberá uma cartinha com a conta para pagar. Seu problema não é resolvido e ainda assim tem de pagar uma taxa extra por ter solicitado manutenção da concessionária que já cobra altos valores pelo fornecimento de energia.

Se você tem seus eletrodomésticos queimados por raio ou por religação de energia, terá de percorrer a via crucis por anos a fio, brigando na justiça por ressarcimento, porque, lógico, a concessionária de energia nunca assume a responsabilidade pelos problemas que gera e pela má prestação do serviço.

Mas quem ganha o primeiro lugar no ranking de pior qualidade no fornecimento de serviços é a telefonia. É mais fácil matar, Cérbero, o cão do inferno, do que conseguir qualquer coisa com empresas de telefonia. Pedir portabilidade ou cancelar um dos serviços ocupa uma hora tranquilamente. Desligam o telefone antes de resolverem o problema; dizem ‘Só um minuto’, senhor!” e nunca mais voltam. Pedem mil confirmações de que você é você para, no fim, dizer que não é naquele setor que se resolve aquele assunto. Transferem você para outro ramal em que a história será repetida para, não poucas vezes, você ouvir que terá de ligar para outro número.

É piada aquele um minuto estipulado pelo governo federal referente ao tempo máximo que o consumidor pode esperar para ser atendido ao telefone. Mesmo que alguém atendesse a ligação com, no máximo, um minuto, o atendente enrola tanto que, ao final de uma hora, nada estaria resolvido e o assinante estaria à beira de um infarto por tamanho desrespeito.

É trágico alguém só conseguir se desvencilhar de uma linha telefônica se disser que quer cancelá-la porque está indo embora do país. Isso mostra o baixo nível de respeito à dignidade humana de que essas empresas estão revestidas.

A verdade é que somos reféns dessas concessionárias, do governo e do desserviço de ambos. É inevitável pensar que ao delegar esses serviços, o governo deixa a impressão de que não consegue oferecê-los adequadamente e, delegando-os, não é capaz nem de fiscalizá-los.

Em termos de serviços, vivemos uma política do café-com-leite com governo e empresas privadas se revezando em ofertar o pior serviço. O governo é mau empresário e péssimo eleitor de seus concessionários, cujo objetivo final é só o lucro.

Ser governo ou empresário assim é fácil. Difícil é ser cidadão comum que, no final das contas, é quem sempre paga caro e raramente leva.

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