A mais nova bela viola é a Medida
Provisória dos Portos. Houve uma corrida desenfreada para aprovar a medida
antes que caducasse, deputados federais se engalfinharam horas a fio para
aprovar uma medida do governo federal na esperança de benesses políticas. Teve
até deputado que aproveitou a cobertura da mídia para promover a própria imagem;
alfinetado por um de seus pares, disse estar disposto a ser investigado a fim
de provar que não enriqueceu ilicitamente ao longo de sua vida política.
Um ou outro mostrou preocupação
com o teor da medida. Um deles, cônscio do dever de um político, teve de chamar
seus iguais na chincha. Ocupou alguns minutos tentando fazê-los entender que o
assunto era sério, que o plenário não deveria ser palco do desenlace de
picuinhas pessoais, que o bem maior - os interesses do país - era a pauta e que
aprovar a medida provisória não era uma simples questão de dizer sim ou não –
não deveria, pelo menos! -, que o importante era analisar as entrelinhas, as
implicações dessa decisão na vida do país.
Muito bem! Aprovou-se a medida
nas duas casas. Vitória do governo federal. Mas de que adianta ter portos
modernos, variados, bem-administrados se estão sucateadas as estradas e
ferrovias por onde chegarão aos portos os produtos que serão exportados? De que
adianta correr para fazer bonito na última etapa se o meio do caminho está todo
esburacado, mal cuidado e abandonado? O mesmo governo federal que se preocupou
com a aprovação da MP não trabalhou o suficiente nesses últimos dez anos para
modernizar rodovias e ferrovias por onde se escoa a produção do país.
Igualmente embolorada é a decisão
também do governo federal de abrir a universidade para todos. Há, nos cursos
superiores, algumas pessoas que mal escrevem o nome, que até conseguirem tecer
uma linha de raciocínio óbvio já ocuparam tempo capaz de matar um leão e que,
consequentemente, atrapalham o andamento da aula, embolam assuntos que nada têm
a ver com o tema e nem se dão conta da confusão que criam.
De que adianta colocar todos no
ensino superior se o ensino básico não dá conta de preparar o cidadão para
cursá-lo? Por que a principal preocupação não é dar conhecimento sólido para a
criança até que chegue ao fim do Ensino Médio capaz de interpretar um texto,
com vocabulário razoável, com desenvolvida capacidade de construção do
pensamento? Por que focar o estágio mais alto se os anteriores estão à mercê?
No Brasil de hoje, não há uma
pedra no meio do caminho; o meio do caminho é própria pedra. Não há nada nem
ninguém atravancando nossa passagem. Nós mesmos é que nos atrapalhamos e não
conseguiremos chegar a degraus mais altos com solidez se não subirmos um a um
os primeiros.
Nosso maior obstáculo é vencer
nossa ânsia de parecer ser o que não somos. Assumir nosso pouco
desenvolvimento, enumerar nossos erros e a partir deles traçar planos para
saná-los um a um a partir da base é o primeiro passo para o desenvolvimento saudável.
O crescimento sócio-econômico não
depende só do grande número de portos modernos ou do número de pessoas na
universidade; depende muito mais do modo como as coisas são feitas na base que,
no Brasil, há muito tempo estão deixando a desejar.