Fala-se em crescente número de denúncias de
violência contra a mulher. Entretanto, o que parece motivo para comemorações,
na verdade, disfarça coisas que as autoridades sabem, mas não fazem nada pra
mudar.
A minoria das mulheres agredidas denuncia,
porque sabem que entrar num embate público com o agressor é sua sentença de
morte. E não adianta o argumento de que eles continuam fazendo isso porque elas
não denunciam. Fazem-no porque não têm moral alguma, porque são covardes e
porque a lei o permite já que esta não faz o que deveria: punir imediatamente o
agressor.
Comumente, pensa-se que a mulher que denuncia
uma agressão sofrida fica livre dessa situação e pode viver tranquilamente.
Grande engano! Quando o agressor, normalmente marido, for notificado de que,
por ordem judicial, terá de ficar a 50 metros de distância dela, ficará tão furioso
que, imediatamente, criará um plano para se “encontrar” com a mulher. Para
fazer o quê? Dar-lhe uma surra para ela aprender a não fazer isso nunca mais!
Em vez de ele ficar preso recebe uma
injeção de ira e ela, que não tem nenhum treinamento em defesa pessoal, não tem
nem policial para protegê-la nem lugar para ficar protegida, começará uma saga
desesperada para proteger sua vida.
A justiça é tão lenta em nosso país que da
denúncia até o dia em que o agressor for preso terá tido tempo de sobra para
muitas agressões e, não raras vezes, morte.
Que mulher, sabendo de tudo isso, vai se
expor e denunciar o marido que lhe bate, que a ameaça? Se denúncia deveria
gerar segurança, por que a mulher tem medo de fazê-lo? Ela, diante do silêncio
da ação do poder público, também se silencia para se proteger a vida sofrida
pelo que ainda preza.
Em sã consciência, pensando nas consequências
de uma denúncia quando o envolvido é um homem violento, a mulher nunca vai se
dar o trabalho de sair da sua casa, ir até a delegacia e queixar-se do marido.
E depois? Para onde ela voltará? Quem vai
protegê-la? E se ela resolver ir embora, quem vai garantir identidade nova,
secreta e subsistência até estar instalada e estabilizada econômica e
emocionalmente? Quem vai acolhê-la?
Na teoria, é tudo muito bem concatenado,
mas na prática, ela está sozinha. Tão sozinha, que muitas vezes, ela se cala até
diante de familiares porque, mesmo que acolham a filha, a prima, a irmã
agredida, acabam sempre lançando uma olhar que, silencioso, grita uma
perguntinha maliciosa: “Será que ela não provocou?”
Há duas verdades nesse assunto. Primeiro,
na prática, a lei não protege a mulher que denuncia a agressão. Pelo contrário,
normalmente inflama a situação. Segundo, nossa sociedade sofre, sim, do
preconceito patriarcal de achar que, no fundo, no fundo, a mulher é culpada
pela agressão e, por isso, tem de sofrer as consequências.
O que era para ser solução passa a ser
problema na medida em desencadeia uma série de fatos para o que o legislador
não se atentou ao elaborar a lei. A impunidade do agressor é prova da falta de
efetividade e aplicabilidade imediata da lei frente a seu fato gerador.
O fato, caro leitor, é que uma mulher só
denuncia agressão física na hora de extremo desespero. Isso prova que está tudo
errado. Ninguém tinha que bater em ninguém. Nem marido em mulher, nem pais em
filhos, nem vice-versa nos dois casos. Mas, agora, há lei para proteger a mulher
do marido ou os filhos dos pais! Isso é cúmulo da falta de desenvolvimento
psicossocial.
Se há agressão, há um problema grave de
educação, formação e cultura. Contudo, se o ser humano não consegue compor um
conflito, fazem-se as leis para resolvê-los. Mas, ainda assim, a lei criada
para proteger as mulheres, ao invés de fazê-lo, escancara o problema e escreve
um final previsível para a vítima da denúncia: silêncio eterno.
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