Ouviu-se muito, com indignação, sobre
as falcatruas no Hospital do Câncer de Campo Grande, MS. Exames cobrados de
quem já morreu? Ah, já devolveram o dinheiro. Ímprobos na direção do hospital? Sim,
mas eles já deixaram o cargo. Quem pagará o superfaturamento que as empresas –
ligadas aos administradores - tiveram? Quem restituirá esse dinheiro, que
faltou, certamente, a alguém que precisou para que outros se enriquecessem?
Devemos soltar os ladrões condenados só por terem devolvido do que roubaram? Devemos liberar o ladrão preso em flagrante só porque não conseguiu levar o produto de seu crime?
Mais chocante ainda é o perdão
das dívidas da Santa Casa. Perdoar as dívidas, nesse caso, não resolve o
problema que se resume na aplicação da lei. Se as contas não batem, o responsável
deve responder por tal. É certo que, depois do devido processo legal, só a
privação da liberdade do corrupto não diminui o caos, mas o dinheiro tem ser
devolvido e aplicado onde deveria, no atendimento da população. Se necessário,
aplique-se a despersonalização jurídica e penhore-se tudo desse administrador
fraudulento.
Se o dinheiro desviado é público,
o povo tem de concordar com esse estranho perdão! Mais: quem é você para
perdoar desvio de dinheiro que me pertence?
Como perdão virou moda, cogitou-se
em perdoar a dívida dos aluguéis da câmara dos vereadores, jogando para baixo
do tapete a irresponsabilidade administrativa. Já questionei o fato e não
obtive resposta: quem ficou com a dinheirama? Existe até uma petição pública
para que o prefeito construa um prédio novo para os vereadores! Poupem-me!!! O
que a câmara faz com sua receita? O executivo tem de pagar a conta dele e do
legislativo? Isso afronta o raciocínio do cidadão normal!
Sugeriu-se a volta para a antiga
Câmara, mas os exigentes vereadores não querem, porque, acostumados a
nababescas mordomias, lá é pequeno. Uma vergonha!!! Em países desenvolvidos,
vereadores não têm sala própria e fazem muito mais pela cidade do que jogar
farpas no executivo. Nesses países (Luxemburgo, Bélgica, etc.), os vereadores trabalham
em suas profissões seculares e separam um tempo para atender às necessidades da
cidade. Sequer ganham salários de político nem empregam parentes e apaniguados.
Escolheram ajudar a cidade dessa forma e fazem muito mais do que os vereadores
de Campo Grande.
Em tempos de avanço tecnológico,
um vereador sério só precisa de um i-Phone, acesso à internet e um pouco de
inteligência.
É fácil sumir com o dinheiro
público e esperar que a dívida seja perdoada e o roubo possa ser repetido. Essa
é a rotina no Brasil. Ninguém responsabilizado, ninguém punido e, no caso dos
vereadores, ainda exigem coisas absurdas do Executivo em causa própria. Daqui a
pouco, vão reformar banheiros por R$90.000,00!
Não adianta mudar o administrador
público se o substituto fizer igual ou pior. É preciso implantar nova consciência
nas pessoas, o que parece mais difícil do que transformar água em vinho. É
tanta corrupção que é preciso apagar e reescrever o país.
Se todos tiverem consciência de que
a ilegalidade será punida, o país ideal passa a ser possível, mesmo que leve décadas
para tanto. Qualquer ilícito tem que ser punido! Não pode haver crescimento num
país onde ocupantes de cargo público usa-o para tirar vantagens financeiras
como se fosse a coisa mais normal e certa.
É preciso uma justiça pronta e
célere para punir enquanto o crime está quentinho
e não deixar o julgamento do facínora para vinte anos depois do ilícito
quando se aposentou o juiz, morreu o promotor e os fatos se esmaecem na
implacabilidade do tempo.
Enfim, os que sobrevivem ao tempo
estão velhos, cansados e doentes, mais preocupados em poupar fôlego para viver
mais uns poucos anos do que em se envolver no julgamento justo de um crime que
comemora dezenas de anos e que os venceu pelo cansaço.
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