terça-feira, 18 de junho de 2013

Por fora, bela viola...

O Brasil tem mania de posar bonito enquanto na essência as coisas não estão tão bem como deveriam.

A mais nova bela viola é a Medida Provisória dos Portos. Houve uma corrida desenfreada para aprovar a medida antes que caducasse, deputados federais se engalfinharam horas a fio para aprovar uma medida do governo federal na esperança de benesses políticas. Teve até deputado que aproveitou a cobertura da mídia para promover a própria imagem; alfinetado por um de seus pares, disse estar disposto a ser investigado a fim de provar que não enriqueceu ilicitamente ao longo de sua vida política.

Um ou outro mostrou preocupação com o teor da medida. Um deles, cônscio do dever de um político, teve de chamar seus iguais na chincha. Ocupou alguns minutos tentando fazê-los entender que o assunto era sério, que o plenário não deveria ser palco do desenlace de picuinhas pessoais, que o bem maior - os interesses do país - era a pauta e que aprovar a medida provisória não era uma simples questão de dizer sim ou não – não deveria, pelo menos! -, que o importante era analisar as entrelinhas, as implicações dessa decisão na vida do país.

Muito bem! Aprovou-se a medida nas duas casas. Vitória do governo federal. Mas de que adianta ter portos modernos, variados, bem-administrados se estão sucateadas as estradas e ferrovias por onde chegarão aos portos os produtos que serão exportados? De que adianta correr para fazer bonito na última etapa se o meio do caminho está todo esburacado, mal cuidado e abandonado? O mesmo governo federal que se preocupou com a aprovação da MP não trabalhou o suficiente nesses últimos dez anos para modernizar rodovias e ferrovias por onde se escoa a produção do país.

Igualmente embolorada é a decisão também do governo federal de abrir a universidade para todos. Há, nos cursos superiores, algumas pessoas que mal escrevem o nome, que até conseguirem tecer uma linha de raciocínio óbvio já ocuparam tempo capaz de matar um leão e que, consequentemente, atrapalham o andamento da aula, embolam assuntos que nada têm a ver com o tema e nem se dão conta da confusão que criam.

De que adianta colocar todos no ensino superior se o ensino básico não dá conta de preparar o cidadão para cursá-lo? Por que a principal preocupação não é dar conhecimento sólido para a criança até que chegue ao fim do Ensino Médio capaz de interpretar um texto, com vocabulário razoável, com desenvolvida capacidade de construção do pensamento? Por que focar o estágio mais alto se os anteriores estão à mercê?

No Brasil de hoje, não há uma pedra no meio do caminho; o meio do caminho é própria pedra. Não há nada nem ninguém atravancando nossa passagem. Nós mesmos é que nos atrapalhamos e não conseguiremos chegar a degraus mais altos com solidez se não subirmos um a um os primeiros.

Nosso maior obstáculo é vencer nossa ânsia de parecer ser o que não somos. Assumir nosso pouco desenvolvimento, enumerar nossos erros e a partir deles traçar planos para saná-los um a um a partir da base é o primeiro passo para o desenvolvimento saudável.
O crescimento sócio-econômico não depende só do grande número de portos modernos ou do número de pessoas na universidade; depende muito mais do modo como as coisas são feitas na base que, no Brasil, há muito tempo estão deixando a desejar.





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