Hoje
entendo minha paúra de ir ao médico. O mal que aflige a saúde é menor e menos
humilhante do que o descuido, o despreparo e a desumanidade que permeiam muitos
centros de saúde.
Normalmente,
fala-se dos centros públicos. Esta experiência de terror passa-se em uma
badalada clínica particular.
Após
difícil semana com dores na coluna, já desesperançada de que elas se cansassem
de mim e saíssem de fininho, rendi-me ao raio-x e à consulta médica. A contragosto,
gastei uma tarde inteira apenas para autorizar o exame e a consulta, tirar o
raio-x e passar por um médico.
A autorização
foi um parto. A atendente acusou o plano de saúde de autorizar outro médico, o
que não se justifica, pois a clínica informa o nome dos médicos de plantão. Para o raio-x, deram-me uma bermuda amarrotada
de tanto uso, quando se deve usar uma roupa por paciente. Não fosse a dor
tamanha, teria me recusado a prosseguir em tais condições. Cansada de aguardar
a consulta, interpelei a atendente, recebi a resposta-prova de sua
incompetência, com a ridícula explicação. Aguardei a consulta médica por mais
uma eternidade.
O
médico tinha sumido para o calabouço da clínica e outro atendente me chamou
como se eu tivesse agendado uma consulta! Mais um erro da moça do pronto-atendimento
enquanto eu continuava minha via crucis (quem sofreu de coluna, sabe) às moscas
esperando pelo lento-atendimento.
Pedimos
para chamarem o médico imediatamente, para falar com o administrador da clínica,
esperamos, pedimos de novo e lá pelas tantas o médico veio, olhou meu raio-x e,
desmentindo exames anteriores que atestavam desvios na minha coluna, falou que
eu não tinha absolutamente nada. Mesmo
assim, passou um remédio e sugeriu que eu procurasse um especialista em coluna.
Ora, se não tenho nada, para que o remédio ou um especialista em coluna?
Pra
mim, essa clínica foi um grande engodo! É evidente que se eu não tivesse nada,
não teria ido lá! O médico fez uma consulta daquelas que nem o Rolo (cachorro
sacrificado por ter Leishmaniose Visceral) recebeu. O tratamento que recebi
naquele lugar não é digno nem de um animal irracional.
Tudo
gira em torno de dinheiro. Querem nosso dinheiro e dane-se o atendimento. Com o
pretexto de aliviarem nosso mal, surrupiam-nos nossas moedas, nossa dignidade e
saímos de lá piores do que entramos, porque a dor continua – sem explicação e
sem solução –, somos insultados com a conduta cruel de gente daquele tipo e ficamos
desacreditados porque aproveitam-se da nossa fragilidade na hora da dor para
mostrarem a que, de fato, vieram.
Plano
de saúde não garante bom atendimento! Se clínicas particulares, postos de saúde
públicos, atendentes e médicos se dedicassem a aliviar o sofrimento de quem os
procura, o sistema de saúde seria melhor.
No
final das contas, se você depende daquele atendimento para viver, você morre
como têm sido repetidas vezes noticiado. O trauma que me levou até o centro
médico é ínfimo diante do trauma com que saí de lá.
Só
para constar, o administrador até agora não apareceu, a minha dor continua e,
quem sabe, na próxima semana, eu consiga um médico especialista em coluna digno
desse nome para me orientar corretamente.
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