segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Dengue oficial



No telefone:
- Tudo ótimo! Peguei dengue na semana passada e minha mulher está no hospital. Também está com dengue. Fora isso, tudo bem.
Por e-mail:
- Fiquei assustada ao ouvir as notícias sobre a dengue em Campo Grande.
No jornal:
“10584 casos de dengue notificados”
E assim, a cidade segue. Dengue é o assunto oficial. Dengue é a doença oficial de todo ano em Campo Grande. Parece até que, em nossa cidade, há uma disputa para ocupar o primeiro lugar no ranking de cidades que sofrem dessa epidemia. Dramático!
Mais do que dramática é a postura dos dois responsáveis por isso tudo, o povo e o poder executivo, que agem com hipocrisia.
Em pleno 2013, não há argumento que justifique o fato de alguém deixar juntar água parada em sua casa. Quem mais interessado do que o próprio morador para, em tempos de chuvas diárias, jogar fora diariamente a água que se juntou?
O povo está cansado de saber que quem paga por suas próprias falhas e pelas falhas do executivo é ele mesmo – o povo - e, ainda assim, continua sendo protagonista de suas desgraças.
Quando alguém deixa criar foco de dengue na sua casa ou em locais de seu acesso, está convidando o mosquitinho para sua casa e redondezas. Está pedindo para ficar 15 dias sem força até para respirar e um mês em restabelecimento até ficar completamente bem. Isso se não tiver suas plaquetas reduzidas a 50000, ter uma hemorragia e morrer.
E sabe o que isso prova? Que esse tipo de gente não tem amor nem à própria vida nem a vida dos entes que chama de queridos. Sim, porque se alguém expõe o que é chamado de ente querido a esse tipo de risco, pode-se falar com absoluta certeza que esse indivíduo não conhece nem o conceito de altruísmo, quanto mais o de amor ao ente querido.
Paralelamente, está o poder executivo que é eleito para cuidar do povo. Mas que só se lembra disso quando a situação chega à calamidade.
O que houve com o termo prevenção? Por que nunca um prefeito de Campo Grande trabalha com a prevenção?
Em qualquer empresa, fala-se em “adiantar-se aos problemas”, mas nenhum administrador da empresa “cidade de Campo Grande” pôs isso em prática. Ninguém pode controlar o Aedes aegypti fazendo algumas visitas nas casas só na época das chuvas. Isso porque o que se quer – ou, pelo menos, deveria – controlar com a fiscalização não é só a presença do inseto, mas mais do que isso: incutir na mente das pessoas a necessidade de não deixar criar em casa foco da doença. É condicionar as pessoas a terem constante cuidado com o espaço onde vivem e trabalham. É educar! Mesmo que isso demore décadas, tem de ser feito o ano inteiro. Todos os dias. Incansavelmente até ser parte da nossa cultura.
Parece utopia! Se os postos de saúde que deveriam ser equipados com recursos humanos e materiais para atender as pessoas diariamente não o são, imagine se um governante vai se preocupar em prevenir durante o ano inteiro uma doença que só acontece no verão?
E, de novo, o povo é responsável também por essa negligência em relação às omissões do executivo. Se o povo soubesse o poder que tem quando está unido, faria valer sua voz e obrigaria qualquer administrador público a cumprir determinadas coisas, entre elas, manter quadro permanente de servidores em número suficiente para fiscalizar as casas e todos os estabelecimentos o ano todo. Isso é administração inteligente.
Mas deixar a situação chegar ao ponto em que Campo Grande chegou, gastando diárias em hospitais com doentes de dengue e remédios e alimentação e tudo mais que um internado precisa -sem contar os casos de morte e o ônus que isso traz às famílias – é, indubitavelmente, mais caro do que prevenir.
Valendo-me de eufemismo, isso é, no mínimo, falta de inteligência, de discernimento e de bom senso.

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