terça-feira, 7 de maio de 2013

O lado oculto da PEC das Domésticas


Mês depois do início da vigência da PEC das Domésticas, o que tenho ouvido à boca miúda é que o tiro saiu pela culatra.

É comum ouvir “A Fulana já está conosco tanto tempo que nós a tratamos como se fosse da família!”, mas o que tenho visto é que, apesar de dizerem isso, patrões que nunca pagaram nenhum benefício antes da PEC aproveitaram o momento para mandarem aquele membro da família embora.

A verdade é que, se fosse da família mesmo, isso não precisaria ser dito. Se fosse da família mesmo, não precisaria ficar labutando tantos anos para só então ser apresentada “como se fosse da família”. Se fosse da família mesmo, jamais seria convidada a se retirar, com PEC ou sem PEC.

Foi votada a implementação de todos os direitos trabalhistas aos empregados domésticos sem se levar em conta que o salário, além de ser a remuneração pelo uso que se faz da energia daquela pessoa, está intimamente ligado à formação e ao ganho que se tem com o serviço desempenhado por aquele empregado. A pergunta é: o que as famílias lucram com o serviço doméstico? Que formação esse empregado tem a ponto de conseguir coordenar as tarefas diárias e executá-las sem necessidade de o patrão dar as orientações diariamente?

Evidente que, constitucionalmente, todos os trabalhadores têm os mesmos direitos, mas têm também os mesmos deveres. Ninguém levou em conta que trabalhadores Brasil afora pagam por todas as suas refeições, não tomam banho no serviço, não lavam suas roupas no serviço, não moram no emprego e ganham salário mínimo também. Ninguém levou em conta que os empregados domésticos tinham tudo isso sem ser descontado deles um único centavo. Ninguém pensou que o horário do trabalhador doméstico obedecia ao ritmo da casa que, em alguns casos começava mais cedo ou mais tarde do que o horário comercial, obviamente, porque não tem a ver com um trabalho comum, mas sim com as necessidades de uma família e nem por isso o trabalhador ficava noite adentro envolvido com afazeres domésticos.

Tudo que se quis foi conceder todos os direitos a essa classe, mas ninguém sequer lhes advertiu que, com essa montanha de direitos, vinha também outra montanha de deveres como a de pagar por tudo que usam.

Soube de alguns casos em que a doméstica, ao ser comunicada pelo patrão de que havia novas regras a partir de então, direitos e deveres que ela passaria a ter, foi ele inquirido sobre o dever de pagar por tudo que ela gasta consigo mesma como se o patrão estivesse mentindo, inventando lei.

Soube de outra que, mesmo não sendo cobrada dela as refeições, chega ao emprego uma hora antes do início da jornada, mas deixa para tomar o café com ovos e mortadela fritos após o início do horário de serviço.

Dar aos domésticos os direitos trabalhistas implica cobrar-lhes postura extremamente profissional em relação ao serviço desempenhado e, infelizmente, muitos deles não conseguem sequer assinar o livro ponto.

A partir de agora, o certo é ter qualificação para ser um trabalhador doméstico. Saber como clarear uma roupa branca sem deixá-la amarela, tirar manchas de roupas coloridas sem desbotá-las. Entender que o calor desbota as roupas e, portanto, devem ser penduradas e passadas do lado avesso.  Limpar a casa sem deixar que janelas e móveis brancos fiquem amarelos. Usar a água e produtos de limpeza sem desperdício. Saber cozinhar algo além de feijão, arroz e bife borrachento...

A partir de agora não é só aproveitar a ausência dos patrões e a necessidade da família de ter alguém em casa para fazer atividades domésticas, para receber o encanador, para preparar o almoço dos guris que vêm da escola famintos e logo partem para as atividades vespertinas e fazer tudo de qualquer jeito e no início do mês receber o salário integralmente. Agora, as faltas sem justificativa, a roupa e o sofá estragados pelo trabalhador doméstico podem ser descontados do salário.

Agora, aquele trabalhador que tinha uma esperança de ser tratado como membro da família alcançou o status de trabalhador como todos os outros e os outros são só trabalhadores comuns. Nada mais.

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