sexta-feira, 3 de maio de 2013

É a seca, é a lama


A prevenção tão falada em todo território brasileiro não parece ser uma prática do governo brasileiro.

Pessoas sofrendo com a seca no sertão nordestino são prova disso. Apesar de ninguém ser responsável pela seca, o governo como responsável pela dignidade da pessoa humana é, sim, responsável por criar meios de prevenir os percalços advindos da seca.

Pequenos produtores de leite não têm água porque não chove; não têm como alimentar o gado porque a cana-de-açúcar usada para tal fim fica a mais de 100 km de distância e o transporte custa R$1.000,00. Se não podem alimentar o gado de que tiram o sustento, como poderão se alimentar?

O tardio remédio governamental foi o anúncio da criação de vários pólos de distribuição de cana-de-açúcar a fim de atender os produtores de leite. Por enquanto, tudo não passa de um anúncio. Até à implantação, muita ração ainda será feita com os ossos de gado morto. Ajudem os céus para que não pereçam também os produtores!

Do outro lado dessa imensidão chamada Brasil, ano a ano, o governo assiste de camarote a morte de dezenas de pessoas. É bem verdade que muitas pessoas insistem em continuar morando em lugares condenados pela Defesa Civil; brincam de cabo de guerra com a natureza que não se intimida com a presença de seres humanos. Mesmo assim, quem permitiu que fossem feitas construções em áreas de riscos de desmoronamentos? Não é a prefeitura que dá a permissão?

No alto da montanha, a pousada bacaninha namora ou desafia o perigo. Quem lhe concedeu alvará para ali se instalar e atrair hóspedes incautos? A Prefeitura!

Somado aos baixos salários, o que diminui a possibilidade de adquirir um terreno em áreas mais seguras porque nobres, está o descuido do poder público que, ao invés de proteger o cidadão, dá-lhe a permissão para subir seu Calvário, de onde despencará para a morte lamacenta.

“O governo do Estado também quer investir em obras”, “A prefeitura isso...”, “A União aquilo...”. Todos anunciam suas receitas cheias de bons remédios para os que sofrem com o     que acontece todo ano.  Todo ano morre gente nos desmoronamentos; todo ano sertanejos são maltratados pela estiagem no nordeste. Todo ano a morte vem nos mesmos bat locais e bat horários e o governo entrega os seus mortos sem cerimônia e sem dó.

Muitos remédios nunca chegam a seu destino e, os que chegam, chegam tarde. Onde estão as casas prometidas na última catástrofe da região serrana do Rio de Janeiro? Por que as notícias das consequências da seca no nordeste são sempre mais numerosas do que as do resultado do Programa Emergencial para Seca naquela região? Onde estão os investimentos para que o produtor se sustente nos períodos de estiagem?

Os que escolhem remediar a prevenir se calam diante desses questionamentos e, infelizmente, ano que vem, acontecerá tudo de novo. Seca, chão rachado, gado morto, produtor à míngua, chuva, desmoronamento, morte.

Pior do que as rachaduras da caatinga é a administração pública em que muitos enchem a burra de dinheiro, fartam-se em vinhos, viagens e caviares e deixam o povo ao relento. Sem pão, sem circo e plateia da própria tragédia.

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