A manhã, com
sua claridade corada de sol, havia vindo com lentidão e, antes que eu percebesse,
ela tinha se retirado graciosamente. O sol, tímido, cedeu seu lugar a nuvens,
que brincavam de esconde-esconde com as expectativas para esse dia. Era domingo
à tarde. As tardes de domingo costumam ser melancólicas, ainda mais quando cai
uma chuvinha fina que acinzenta os céus e insiste em fazê-lo também em meu
coração.
Estava
simplesmente vivendo. O máximo que sabia era que a tarde, mesmo com todas as
possibilidades de tempo fechado, seria de sol em meu coração.
A disposição
era a de reviver, através da música, momentos especiais. “Concerto for 2 Cellos and Orchestra in G
minor” de Vivaldi, “Stand by me”, “Over the rainbow” iam embelezando o dia. Eu
ia me deleitando. Entregando-me ao momento, à experiência, à vida que me laçava
para seu mundo divinamente musical.
Lá pelas
tantas, uma música tocou-me mais profundamente do que as outras, “I believe in
a hill called Mount Calvary” cantada pelo Gaither Vocal Band. Além da melodia,
a letra me fez lembrar de que a cruz é elemento quase obrigatório na música
gospel. A cruz que havia sido, ao mesmo tempo, algoz para Cristo e liberdade
para nós.
Letra, melodia
e força da cruz se misturaram. Meu coração descompassou. A música parecia ir
crescendo, acompanhando a subida de Cristo ao Calvário. A intensidade das notas
musicais me transportou para um passado longínquo quando Cristo,
sacrificialmente, entregou sua vida por toda a humanidade. A grandeza da melodia
me fazia ver a grandeza do ato de Jesus. Fez-me entregar novamente minha vida a
Ele como se fosse a primeira vez.
Sim! A música.
Ela é capaz de nos levar a lugares inimagináveis, capaz de nos dar sensações
insondáveis. Capaz de entrar no mais profundo do coração humano e despertar o
sentimento mais escondido. Ela me fez sentir a dor da cruz e dos açoites
impostos ao Filho de Deus.
Eu ia me
surpreendendo com aqueles sons, com toda aquela música que foi pensada por
alguém há não sei quanto tempo. Como era possível concatenar as notas musicais
a ponto de provocar as mesmas emoções que rodearam o compositor quando ele as
sentiu? Como, tempos depois, eu podia sentir essas emoções, e novas emoções por
conta das mesmas combinações sonoras?
No final da música,
minhas certezas se resumiam a: “Músico é aquele cara que anda a um metro do
chão.” Não é um cara normal! Ele recebeu um quê dos céus que o fez diferente,
especial. Ele consegue transformar os dias cinzentos em dias de sol; as horas
escuras, em luz brilhante e faz do momento feliz um contentamento sem fim. Mais
imponente que isso é o segundo e mais cabal dos pensamentos sobre a arte de
combinar melodia, harmonia, ritmo - e sentimento: “A música só pode vir de
Deus!” ou como diz o grande poeta: “Música, carícia de Deus.” Ela é um dos
benefícios divinos dos quais Ele nos carrega diariamente.
Os acordes, a
melodia e a poesia daquela música transformaram o domingo de chuva em dia de sol
e música derramados no meu coração.
Gizeli Costa
15MAI2011
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